A RITALINA NÃO FAZ MAIS EFEITO
Gostaria de lembrar que não sou médico, psicólogo ou farmacêutico; sou
um mero portador de TDAH que se aventura a descrever experiências,
sensações e emoções. Este post não tem qualquer pretensão científica,
narro apenas minha experiência com o medicamento.
Em minha primeira consulta com minha Neurologista, Dra. Valéria Modesto,
chegamos a conclusão de que devido à minha péssima memória eu deveria
usar a Ritalina LA; menor número de tomadas diárias, menores as chances
de ficar sem medicamento. Nos primeiros dias os efeitos benéficos são
avassaladores; você acorda de um torpor em que estava enterrado há anos.
No meu caso cinquenta anos. O problema foi que a Ritalina LA me deixou
absurdamente irritado, eu explodia por qualquer coisa, sem a menor
paciência pra nada. A solução foi passar para a Ritalina comum.
Passei a fazer uso de dois comprimidos de 10mg por dia, e os tomava religiosamente.
Minha irritabilidade diminuiu muitíssimo e os efeitos benéficos se
mantiveram. O problema, é que não sou lá muito religioso, e passei a
esquecer de tomar o segundo comprimido. Quando me lembrava, já ia lá
pelas cinco da tarde e eu não via mais muita razão pra tomar a Ritinha.
Por falta de disciplina, acostumei-me a ficar sem a segunda dose e
comecei a achar que não precisava dela. Estava ótimo com apenas um
comprimido por dia.
E comuniquei isso à minha médica. Passei então a fazer uso de apenas um comprimido pela manhã e me achei ótimo assim.
Em julho de 2012 minha vida virou um caos. Problemas financeiros e de
relacionamento transformaram meu dia a dia num inferno. O que acabou
culminando em separação e mudanças radicais em minha vida profissional.
No meio deste turbilhão, um belo dia decidi tomar um comprimido de
Ritalina depois do almoço. A cortina se reabriu e eu revi a paisagem da
janela. Foi um choque, um choque bom, ótimo. Aí eu percebi o que havia
feito com meu tratamento: sem perceber, acostumei-me aos efeitos da
Ritalina e achei que não precisava dela. Caí num enorme conto do
vigário. Aplicado por mim mesmo. Após um longo período sem o segundo
comprimido, ao tomá-lo pude perceber nitidamente seus benefícios, e
voltei a tomá-lo; não religiosamente com antes, pois sou um péssimo
religioso, mas com uma disciplina de quem sabe que precisa e pode
melhorar a própria vida.
E aí eu faço uma analogia com os comentários de que após um tempo de uso
a Ritalina deixa de fazer efeito: não caia nessa, você habituou-se ao
seu novo ritmo de vida, à sua nova atenção, às suas novas atitudes.
Apenas isso. Imagine-se de óculos novos; nos primeiros dias tudo o que
você vê é novidade, é lindo, multicolorido, ao final de um tempo você
acostuma-se às cores e formas nítidas, mas isso não significa que seus
óculos deixaram de funcionar, você é que acostumou-se a um novo padrão
visual.
O que você precisa agora é aplicar um nitro na sua Ritalina, não
aumentando a dosagem ou mudando de medicamento, mas cercando-se de apoio
psicológico, mudança de atitude e ampliando seu auto conhecimento e o
seu conhecimento sobre a doença.
Pense nisso: acostumamos a tudo na vida, para o bem ou para mal.
Acostumamos também com o medicamento e somente com sua supressão
percebemos o quanto ele é eficiente.
Claro que isso não impede de mudar de medicamento ou de dosagem, mas
isso deve ser feito baseado na premissa correta e não em uma falsa
impressão de que o medicamento que fazia efeito até ontem, deixou de
fazer hoje.
Não caia nessa auto sabotagem.
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