O TDAH E OS ERROS DO PASSADO
Como é possível viver uma 'nova' vida com tantos erros GRAVES deixados
para trás? Como é possível colocar a cabeça a noite no travesseiro
tranquilamente sabendo que fez coisas que doença nenhuma justifica?
TDAH
não é motivo para fechar os olhos para os problemas que possa ter
causado, muito menos desculpa. Para ser considerado uma nova pessoa, a
'antiga' não pode deixar pendências que prejudiquem a vida de outras
pessoas. O novo 'eu' só pode deixar pra trás aquilo que consertar.
O
diagnóstico que teoricamente "abre os olhos" é enganoso. Erros que
atrapalharam a vida de outras pessoas, não podem ser simplesmente
esquecidos, isto está no caráter, e não numa doença."
O comentário acima me fez pensar muito.
Parece que existe um erro de avaliação em relação ao TDAH, ao tratamento e aos portadores.
TDAH
é uma doença biológica que altera o comportamento do portador. Não
serve de desculpa para nada, simplesmente pode justificar determinados
comportamentos.
Existem portadores de TDAH honestos e desonestos; gordos e magros; pacíficos e violentos; heterossexuais e homossexuais.
Ser
diagnosticado TDAH não apaga o passado de ninguém. Iniciar uma nova
vida não significa esquecer o passado, mas construir um novo futuro.
O tratamento do TDAH não nos tornará perfeitos, nos tornará comuns, normais, igual à maioria das pessoas que não tem TDAH.
Pessoas
com ou sem TDAH cometem erros, magoam pessoas, prejudicam pessoas, são
magoadas pelas pessoas, são prejudicadas pelas pessoas, amam e odeiam as
pessoas.
Atire a primeira pedra aquele que jamais prejudicou alguém. Com ou sem intenção.
A
nova vida que tanto falamos aqui é uma nova vida para os portadores de
TDAH. E é mesmo, uma vez que estaremos com o domínio de uma série de
comportamentos que nos prejudicaram ao longo de nossas vidas.
Os
comportamentos que tivemos antes do diagnóstico foram de nossa
responsabilidade e continuam sendo. Quem cometeu erros não os esquecerá
(e nem é esse o objetivo do tratamento), a vida continua, agora sob uma
nova ótica. Somente isso.
Ao
contrário do que disse o leitor acima, o diagnóstico realmente abre
nossos olhos; abre para novas possibilidades de vida; abre para que
entendamos muitos de nossos comportamentos (que muitas vezes são
inexplicáveis para nós mesmos); abre para que possamos construir uma
nova vida.
Em
nenhum momento foi dito aqui, por mim ou por qualquer dos leitores que
aqui comentaram, que os erros do passado serão ou foram esquecidos. E,
ainda em oposição ao que afirmou o leitor, muitos de nossos
comportamentos são sim frutos do TDAH e não de falta de caráter como
afirma o comentário acima.
Outra
coisa que chama atenção nesse comentário: é possível reparar o que foi
feito no passado? Se não for, de que adianta ficarmos remoendo e
sofrendo por sua causa?
Não se trata de um comportamento frio, mas realista, de bom senso.
O
sentimento de culpa é uma das características dos portadores de TDAH;
nos culpamos - com ou sem razão - por inúmeros problemas que podemos ter
causado, ou imaginamos que tenhamos causado.
Cometi
inúmeros erros no passado, magoei várias pessoas, mas com mais de
cinquenta anos quem não errou? Quem não magoou? Então, não olho mais
para o que não posso reparar.
Procuro
ser uma pessoa melhor hoje - e nem sei se estou conseguindo - para
magoar o mínimo de pessoas possível e, se possível, jamais prejudicar a
quem quer que seja. Mas, nem eu nem ninguém pode garantir que esse
objetivo será plenamente alcançado, posso garantir que tento, tento
muito.
Cada
um de nós que foi diagnosticado como portador de TDAH tem o direito de
inciar uma nova vida, de construir um novo futuro, de desfrutar de uma
vida comum e normal.
Cada
pessoa convive com seu passado da maneira que lhe for conveniente,
possível e aceitável. O peso desse passado não pode provocar paralisia
no presente.
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