O TDAH DESEMPREGADO.







O desemprego é difícil para qualquer pessoa, e quando perdura, é muito pior. A falta de trabalho e a consequente incapacidade para manter-se e à família, reduz a auto estima e potencializa todos os defeitos da pessoa.
Gonzaguinha tem uma música que fala sobre isso e num determinado trecho diz assim: sem o seu trabalho um homem não tem honra...
Imagine se essa pessoa for TDAH!
Por influência da doença, já temos uma baixa auto estima, desempregados então...
Vamos imaginar o quadro descrito pela leitora Simone: o marido desempregado, sustentado pela mulher e fica em casa o dia inteiro nos joguinhos de computador.
Que comportamento ridículo, o camarada desempregado e fica perdendo tempo em joguinhos?
Pois é amigo, pense bem, sem emprego, sem dinheiro, e com auto estima lá em baixo. Procurar emprego pra quê, ninguém vai contratá-lo mesmo. E a vergonha de sair de casa e ter de explicar a quem encontrar que está desempregado; de novo. E a falta de noção de tempo, que faz com que as horas escoem diante da tela do computador e ele nem perceba. E a infantilidade típica da doença que faz com que ele espere uma grande oportunidade caindo em seu colo.
E a esposa chega em casa morta de trabalhar e se depara com a casa bagunçada, nenhum currículo distribuído e o marido no computador jogando sem parar. Dá uma raiva!
E o marido fica agressivo, grita, discute.
Essa é a maneira que ele encontrou de se defender do indefensável: agredindo.
Acuado, sabendo-se sem razão mas não querendo admitir a derrota, parte para o ataque.
O ataque trás em seu bojo todo o desespero pela doença, trás a negação do diagnóstico, trás a recusa ao tratamento; mas trás também uma inconsciente vontade de que tudo piore; uma estranha vontade, inexprimível, de experimentar o fundo do poço. Um amargo e doce flerte com a tragédia total; desemprego, separação, e a pena de todos os que o cercam.
Não sei se algum de vocês já sentiram o estranhíssimo fascínio de saltar de lugares altos, muito altos; eu sinto isso. Sei que jamais concretizarei, mas uma vontadezinha de experimentar o salto final, lá isso dá.
O comportamento do marido é típico do TDAH! Ele foi diagnosticado e, por falta de sorte, tratado erradamente, mas ao mesmo tempo ele ligou o foda-se. E isso serve pra tudo em sua vida. Nós portadores sabemos do que estou falando.
Sabe, Simone, enfrentar essa barra requer uma força que eu não teria; e nem sei se queria ter.
O normal ao sermos diagnosticados é um profundo mergulho no universo TDAH para aprendermos a lidar com a doença, para criarmos estratégias para driblá-la.
A inércia e o desinteresse são frutos da auto sabotagem, assim como a negação, mas cabe somente a ele se erguer e enfrentar a doença; e não esperar que façam por ele.

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