O TDAH, O BLOG E O MURO DAS LAMENTAÇÕES

Num comentário por email que recebi antes de ontem, uma amiga virtual comentou que o blog se assemelhava a um muro das lamentações.
Confesso que minha primeira reação foi de irritação, depois percebi pelo teor completo do email de que não se tratava de uma crítica gratuita e sim de uma constatação, uma conclusão que ela chegou em função do teor da maioria dos posts.
E por que isso?
Esse blog é um retrato da minha vida, ou um retrato da minha alma, ele reflete exatamente pelo que eu estou passando, minhas conquistas e minhas derrotas, minhas alegrias e tristezas. Completo em novembro 52 anos, 50 dos quais sem nenhum tipo de tratamento do TDAH é normal que eu ainda sofra os efeitos da doença mesmo quase dois anos após iniciar meu tratamento. Mal comparando, sou fumante por 12 anos; ainda hoje levo a mão ao bolso da camisa pra pegar o maço de cigarros. O que imagino é que para meu cérebro o hábito do fumo ainda tem profundas raízes afinal, o tempo de fumante ainda é bastante superior ao de não fumante. Acredito que com o TDAH seja algo semelhante. Minha personalidade foi forjada com o TDAH acoplado a ela, meu cérebro está habituado a agir conforme as características do TDAH por isso é tão difícil vencê-lo. Por isso é tão necessário ao TDAH diagnosticado na idade adulta policiar-se, analisar se seus atos sãos seus ou frutos do TDAH. Por isso precisamos da Ritalina, do coaching, do apoio psicológico, do atendimento médico. 
Apesar de estar me tratando há dois anos, praticamente, minha vida ainda sofre fortes consequências do 25 anos de reinado absoluto do TDAH.
Esse blog não é um espaço literário ou de ficção, esse blog é um desabafo, um grito, um grito que encontrou eco em milhares de acessos vindos de diversos países do mundo. Esse espaço gerou cerca de mil comentários de homens e mulheres que sofrem os efeitos do TDAH.
Do fundo do coração, eu gostaria que esse blog fosse uma sucessão de vitórias, conquistas e sucessos. Mas aí seria mentira, não teria credibilidade; nenhuma vida é feita só disso. Com ou sem TDAH.
A vida é luta, e a vida de um portador de TDAH é luta acrescida da doença. O TDAH se soma aos problemas normais de todas as vidas, é um problema a mais. 
Ao escrever sobre o que enfrento, ganhando ou perdendo, ponho a nu as estratégias do TDAH, retrato não só a mim e os meus problemas, mas os problemas que milhões de pessoas enfrentam no Brasil e no mundo.
Confesso que cheguei a me preocupar se o blog não estaria ficando pesado ou pessimista demais; mas creio que não, o blog é realista. Às vezes um pouco amargo, noutras um tanto forte, mas a vida é assim, e reconstruí-la aos 25 anos dá um trabalho danado. Estou aprendendo a reconstruí-la, estou mudando hábitos arraigados há meio século, luto com um inimigo poderoso e sorrateiro. mas não luto sozinho. Tenho ao meu lado cada leitor desse blog, minha médica e minha coach ( tinha mais gente mas me deixou pelo meio do caminho) e tenho o próprio blog, meu muro das lamentações. Não, lamentações não, meu Muro das Emoções. 
Ficou melhor, né!
Obs.: O melhor do blog são os comentários. Aprendo com eles, geram posts e me fazem avaliar e reavaliar aquilo que escrevo e meu tratamento. Não deixem de comentar, é muito importante.

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