O TDAH E A EXPECTATIVA DE TRATAMENTO








Muitos emails chegam repletos de expectativa quanto ao tratamento que está por se iniciar.
Um misto de expectativa e esperança; de medo e revolta; um choque de emoções contrárias e intensas.
Mesmo quanto à medicação os sentimentos são conflitantes; o medo proveniente das asneiras que são ditas contra a Ritalina, ao mesmo tempo que a alma está cheia de esperanças de deixar pra trás a vida de erros e fracassos.
Mas enfim, o que esperar do tratamento?
Saiba, em primeiro lugar, que sua vida não vai mudar num passe de mágica. Não vai haver aquele dia em que você acordará focado, produtivo, com memória de elefante e pensando racionalmente antes de agir.
Não, isso não vai acontecer.
A Ritalina não faz milagres! E age de maneira diferente em cada pessoa. Quando leio os comentários do blog eu percebo isso claramente. Não posso falar pelos outros, mas relacionarei o que senti:

1) Fiquei mais atento, mais focado para dizer o termo da moda.
2) Fiquei mais animado. Diminuiu muito aquele desânimo típico do TDAH.
3) A Ritalina diminui o sono durante o dia.
4) Fiquei mais produtivo, me enrolo menos nas coisas, faço minhas coisas com mais objetividade.
5) Fiquei menos disperso. Menos suscetível a ser interrompido por ruídos e conversas paralelas.
Esses cinco efeitos podem parecer poucos, mas são muito importantes na mudança de vida. Mas, e o que não funcionou, ou em quê a Ritalina não atuou?

1) Na impulsividade.
2) Na procrastinação.
3) No sentimento de inferioridade.
4) No auto isolamento, ou na absoluta falta de vontade de conviver com outros seres humanos.
Sim, são sintomas importantes, que no meu caso, o remédio não atuou.
Aí entra outra ferramenta de auxílio ao tratamento: auto controle. Passei a me policiar mais, a pesar melhor minhas reações, a fiscalizar mais meus sentimentos e comportamentos.Isso serve pra alguma coisa? Pra muita coisa. Eu sempre fui muito suscetível às mudanças de humor repentinas e inexplicáveis; ou desproporcionais ao fato que enfrentei. Hoje, quando me vejo numa tristeza acachapante, me encaro nos olhos e digo pra mim mesmo: levanta a cabeça, esse sentimento não é meu, é do TDAH. E sigo a vida. Eu sei que parece idiota, mas funciona como um milagre.
Com o sentimento de inferioridade também funciona. Quando estou naqueles dias que me sinto um pano de chão, o mais idiota e incompetente dos mortais, mergulho em minha alma e a alerto que esse sentimento é um equívoco; na verdade eu sou foda! Cheguei aos 28 anos carregando esse maldito transtorno nas costas, e cheguei relativamente bem, feliz, saudável e produtivo. Então não tenho por que me achar inferior a alguém. Claro, nem sempre funciona assim em todas as vezes, existem dias em que cometemos erros graves, falhamos pela enésima vez, da mesma maneira. Mas até isso pode ser superado à luz do TDAH.
Mas não é fácil! Continuo um procrastinador profissional. Luto diariamente contra isso; e perco na maioria das vezes. Ainda sou um impulsivo de carteirinha, tão impulsivo que coloquei minha própria vida em risco a pouco tempo. E ainda não estou completamente livre desse risco.
Melhorei?
Valeu a pena tratar-me?
Sim, o saldo é muitíssimo positivo. minha vida hoje é muito mais centrada e produtiva.
Trate-se, é muito bom; muito bom não, é ótimo.
Só não acredite em contos de fadas; eles não existem e só servem pra aumentar nossas decepções.

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