O TDAH AUSENTE
Não me acuse de ter Déficit de Atenção.
Nada disso. Eu não me esqueci daquilo que você disse outro
dia; eu não estava lá. De nada vale você dizer em que posição eu estava
sentado, em qual cadeira da sala, ou como eu segurava a xícara de café; eu não estava
lá. Se você não me conhece o bastante para saber que eu estava ausente, você
não me conhece. Eu simplesmente não estava lá.
Se o assunto só interessa a você, se só diz respeito a você
ou aos seus sentimentos, preste atenção: eu posso viajar. Posso me desgarrar
ainda que permaneça diante de você. Quem sabe se você dançar enquanto
fala. Ou dramatizar suas maçantes
palavras. Ou eu não estarei ali para ouvir.
E você não pode me acusar de Déficit de Atenção, não se fala
pra quem não está presente; talvez seja até falta de educação. De sensibilidade
é, com certeza.
Às vezes viajo, vou longe, embalado pela cantilena da sua
voz e pelo ritmo incessante de seus lábios; ah como viajo...
Se você me acusa de Déficit de Atenção posso acusar você da
mesma coisa: onde você estava que não percebeu que falava para as paredes?
Mas não vou acusar você de nada; apenas ignoro e sigo a
vida. Afinal, o que você disse ou tentou dizer não deveria ser nada importante;
ou fascinante; ou interessante...
Guardo na memória coisas do arco da velha, coisas aparentemente
inúteis, mas que tiveram força suficiente para imprimir sua marca em
minh'alma. Muitas coisas de ontem, ou de hoje, evaporaram-se;
simplesmente por que
não tinham importância.
Mas do que você estava falando mesmo? Desculpe-me, eu me
desgarrei de novo...
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