UM TDAH INVENCÍVEL








É incrível como o olhar profissional enxerga tudo de maneira mais aguda e por ângulos completamente diferentes.
No último sábado foi realizado a primeira reunião de 2013 do Grupo Mente Confiante; um grupo de apoio aos portadores de TDAH, criado pela Dra. Valéria Modesto e Luciana Fiel - respectivamente minha médica e minha coach - esse grupo é formado pelos portadores, familiares e cuidadores, pacientes ou não da equipe do Mente Confiante.
Ali são discutidos aspectos técnicos, explanações científicas, mas principalmente, é um espaço onde nós portadores e nossos familiares podemos discutir nossas dificuldades e nossas vitórias, trocando experiências e estratégias para melhor superar nossa doença.
Nessa primeira reunião do ano, o Mente Confiante anunciou um novo serviço: a terapia de grupo. Semanalmente a psicóloga Kátia Carvalho, de Belo Horizonte  - treinada pela Dra. Valéria Modesto e pela Luciana Fiel - virá a Juiz de Fora coordenar o grupo.
Kátia estava presente no encontro e acompanhou todos os depoimentos, inclusive o meu, e ao final tivemos oportunidade de conversar sobre a reunião e sobre a terapia de grupo.
Aí entra o olhar treinado da profissional.
Em meu depoimento falei das muitas quedas e derrotas que experimentei na vida e, de passagem, mencionei que, se as quedas foram muitas eu possuía uma infinita capacidade de me reerguer. E que, da pessoa que parecia perdida e derrotada há três meses, quase nada resta hoje em dia.
Segundo Kátia, aí estava a chave do meu depoimento e talvez da minha vida: a certeza dessa 'capacidade de me reerguer', faz com que eu não dê muita importância ou muito valor às derrotas da vida.
Sinceramente, eu jamais havia pensado nisso. Mas faz muito sentido. A certeza da imortalidade faz com que a pessoa dê-se ao luxo de arriscar a vida. Ao mesmo tempo que a paralisa.
Aí lembrei de um conto do genial Jorge Luís Borges: No conto um general romano sai em busca do elixir da vida eterna; inicialmente seguido por um exército, o general termina sua busca, anos depois,  só e maltrapilho. Mas encontra no meio de um deserto, a tão sonhada fonte da vida eterna.
Após beber da água milagrosa, o general descobre que o que dá urgência e sentido à vida é a certeza da morte.Ao redor da fonte um grupo grande de homens se achava jogado por sobre as pedras, em uma longa e exasperante inércia. Ali perto um senhor encontrava-se preso num buraco, segundo o general descobriu, a mais de 25 anos. E ninguém o ajudava a sair, nem ele pedia socorro, pois o tempo não fazia mais diferença. Ninguém ali iria morrer, portanto, mais dez anos ou menos dez anos nenhuma diferença faria na vida daquele senhor caído no buraco.
Ao entender a 'sina' a que estavam condenados os imortais, o general volta sua busca ao antídoto daquela água da vida eterna. E ao descobrir centenas de anos depois, volta a viver intensamente, consciente de que pode morrer a qualquer momento.
Amo esse conto, e o livro tem no título o primeiro nome do pseudônimo que usei quando criei esse blog: Aleph Buendía. Aleph o título desse livro de contos, Buendía o sobrenome da família cuja saga é contada por Gabriel Garcia Marquez  no livro Cem Anos de Solidão.
Pois bem, desde então tenho pensado nisso. Será que minha 'tranquilidade' e até mesmo uma certa 'passividade' diante das quedas da vida estão embasadas nessa certeza de que darei a volta por cima?
De minha infinita capacidade de recuperação, termo exato que usei no depoimento que dei no último sábado?
Isso é tarefa para a terapia de grupo de que certamente participarei a partir da próxima semana.
Aí eu conto pra vocês o que for descobrindo.

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